sábado, 22 de setembro de 2012

A governança da Baía de Guanabara

Alem das instituições da estrutura governamental, foram criadas várias  instâncias colegiadas, para gerir a utilização das águas e administrar as atividades que  influenciam a Baía de Guanabara sejam no próprio espelho d`água ou nos  16 municípios da sua região hidrográfica. Algumas contam com  a participação da sociedade civil,  de empresários e de outros usuários das águas.

Dentre os colegiados estão o Conselho Gestor da Baía de Guanabara, no âmbito do Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro, o Grupo Executivo de Investimentos da Baía de Guanabara-GEIBG, este governamental, além de organizações de empresários.  Alguns pouco ou nunca funcionaram.

Talvez o mais atuante seja o Comitê da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara e dos Sistemas Lagunares de Maricá e Jacarepaguá.  Por imposição do governo, com a justificativa  facilitar a gestão dos recursos hídricos, teve incorporados os apêndices vizinhos.  Como se não bastassem os problemas da própria Baía de Guanabara somaram-se os de bacias hidrográficas contíguas.
  
Na ultima reunião plenária deste Comitê, realizada em 30 de agosto,  assistiu-se a um espetáculo triste, difícil de descrever. Houve de tudo: desde a falta de respeito à Lei de Recursos Hídricos, ao  Regimento Interno do Comitê e até as regras básicas de decoro, de convivência, de civilidade e bons costumes foram ignoradas.  Ganhou quem gritou mais alto, quem participou dos evidentes conchavos em benefício de interesses não pertinentes. Os preceitos contidos nos Planos Diretores de Recursos Hídricos e da Baía de Guanabara foram ostensiva e oficialmente aviltados para desviar recursos.  Documentos produzidos a custos de milhões de reais, resta jogá-los no lixo. Faltou espírito público.

Se continuar assim,  a Baía de Guanabara vai de mal a pior.

Para começar a mudar, moralizar o Comitê da Baía de Guanbara, ter respeito com os membros do plenário e  acabar com os conluios é o mínimo que se pode esperar.

Depois, dizem que muitos cozinheiros estragam a sopa. É urgente adotar um novo modelo de gestão já que os muitos existentes são ineficientes para resolver as graves questões que afligem não só a Baía de Guanabara  mas a todos nós preocupados com a sua performance nas olimpíadas de 2016.  Ela merece e todos os brasileiros também.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sobre (ou sob) as árvores

Gosto muito das árvores.  Aprecio todas,  acho  bonitas, cada uma a seu jeito.  Há as altivas, altaneiras,  com o tronco ereto parecendo querer  chegar ao céu, como o bacurubu (ou guapuruvu) da nossa Mata Atlântica e ainda as de formas não tão regulares como a acácia imperial que compensa a sua deselegância quando floresce num amarelo dourado acompanhado do cantar das cigarras que abriga em suas raízes durante anos. E os ipês?  De todas as cores são lindosmas o de minha preferência mesmo é o amareloNão me importa se nacionais ou não, gosto de todas as árvores. Adoro estar à  sombra de uma mangueira mesmo sabendo que os europeus a trouxeram da Ásia.
Aprendi a gostar delas ainda na minha infância. Passeava-se com tranqüilidade  pela floresta da Tijuca,  pelas trilhas dos vários morros de Niterói onde podíamos ir observá-las e conhecê-las, uma a uma. 
Hoje tenho muita  pena das  árvores das nossas ruas.
Suas raízes têm que crescer embaixo de calçadas que impermeabilizam o solo impedindo a  infiltração da chuva. O ar poluído  prejudica a sua respiração tanto quanto a nossa e elas não podem fugir, proteger-se, procurar um ar mais limpo como fazemos. Seus troncos são usados como banheiros, são depósitos de lixo e de pontas de cigarro. Sem falar dos paredões de concreto dos edifícios que impedem a passagem do sol de que elas tanto precisam.  E, apesar de tudo, resistem.
São  amendoeiras, oitizeiros, acácias. As ruas de Icaraí foram arborizadas com  algodoeiros de praia  substituídos,  pelo que me contaram,  porque suas flores amarelas quando caíam eram escorregadias como cascas de banana. Hoje é raro vê-los.
Niterói deu exemplos de respeito às árvores de rua.  Há mais de cinqüenta anos, quando alargaram a  rua Miguel de Frias, na  altura do Rio Cricket, os oitizeiros adultos foram transplantados por guindastes para enormes cavas preparadas para recebê-los. E estão até hojeMais recente, a reurbanização de São Francisco manteve as amendoeiras que estavam no meio das duas ruas estreitas, em frente à antiga praia, transformadas agora em uma calçada larga onde elas permanecem, amenizando o calor dos passantes.
Hoje não se tanta consideração por elas. São mal cuidadas e freqüentemente   mutiladas pelas podas em nome da proteção dos fios pendurados pelos postes. E pior, os moradores se sentem ameaçados por elas. Acham que seus troncos grossos e a sombra que fazem à noite  podem esconder bandidos. Em muitos casos estão sendo eliminadas ou substituídas por arbustos ou pequenos jardins, que não dão sombra e ainda  atrapalham a passagem dos pedestres. A sugerida “Sociedade de proteção às árvores, sementes e mudas” poderia cuidar também das maltratadas arvores urbanas.

Dia da árvore

Convencionou-se que o dia 21 de setembro é o dia da árvore.  Dia reservado para pensarmos nelas, nas formas de protegê-las, cuidá-las.
Entre as atividades comemorativas do dia da árvore foi inventada a distribuição de mudas. Distribui-se fartamente desde mudas de aroeiras, goiabeiras, acácias e  ipês até cedro e pau brasil, nos  mais variados lugares como pedágios  nas rodovias,  postos de gasolina e  praças públicas. Doadas indiscriminadamente a quem quiser levar, como  brindes.
Virou moda. Em todos os eventos, para dar um cunho ambiental,  distribui-se mudas de arvores. Não precisa  ser  o dia da árvore, pode ser o da água, do meio ambiente ou outro qualquer. Alguém pensou no destino delas? Aposto quanto quiserem que morrem todas, ou a maior parte delas. imaginaram um jacarandá num apartamento de quarto e sala? Ou um abacateiro num vaso em  uma área de serviço?
Em tempos não muito passados, foi moda distribuir pintinhos recém nascidos, que às vezes eram coloridos, supostamente para agradar as crianças. Morriam todos esmagados pelo excesso de cuidados infantis. E os que sobreviviam aos carinhos iam acabar mesmo na panela.
Há tempos aprendi  num texto da Andréia Fanzeres, no site OECO, o quanto é difícil produzir as  mudas das árvores necessárias para reflorestar e  recompor as grandes áreas de nossa mata perdida.  Desde conseguir as sementes, que hojemenos arvores e as boas matrizes se concentram nos parques e reservas florestais, onde existe restrição à sua coleta. E há também a competição  com outras  utilizações das sementes como  a obtenção de essênciasóleos e a confecção de bijuterias. Existem estudos específicos quanto a este assunto de coleta de sementes. E é coisa séria.
E não basta a semente para se ter uma muda da árvore. Ela precisa ser plantada e tratada cuidadosamente, num ambiente propício,  para que possa germinar e crescer até estar pronta para ser transportada e transplantada. Viveiro de mudas também é assunto sério, e para quem entende.
 Alem do mais, todo este processo, desde a coleta da semente até a muda pronta,  custa muito dinheiro.
Sabemos da necessidade urgente de proteger as nascentes da água que bebemos  recompondo as florestas antes ali existentes.  Sem a vegetação, o solo não retém a água das chuvas, que carreia os sedimentos, que vão  assorear  os rios que acabam transbordando na enxurrada. Para é que as mudas devem irReflorestar os mananciais deve ser prioridade.
Não devemos permitir  que  mudas de árvores sejam desperdiçadas e mortas, como antigamente os pintos, em nome da comemoração de um dia qualquer, muito menos o dia delas!  Elas devem ser tratadas com  respeito, ter o direito de crescer e  transformar-se em árvores  que venham a produzir  suas próprias sementes
Proponho organizar uma Sociedade Protetora das Árvores. Não das adultas. Também de suas  sementes e mudas.

A Guanabara é o ralo para onde escoam as águas das chuvas depois de lavar o chão de 16 municípios do seu entorno. Recebe a sujeira através dos rios que nascem límpidos nas serras e se transformam nos valões fedidos que conhecemos na baixada. Nela vão parar pneus, sofás, sapatos, sacos plásticos, tudo que se pode imaginar. Nosso grande desafio, mais do que limpá-la, é parar de sujá-la.

Mas as soluções existem e a Olimpíada de 2016 é uma grande oportunidade para nos unirmos e mostrarmos competência. Vamos fazer em quatro anos o que outros países levaram 50, como a recuperação do Rio Tâmisa, na Inglaterra, ou da Baía de Tóquio, no Japão. Precisamos dar destino ambientalmente correto ao lixo e aos esgotos domésticos de quase 10 milhões de pessoas. E estes, são assuntos nossos e de nossos governos.

Dos 16 municípios, três registram IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) comparável aos dos países com alto desenvolvimento humano. Outros, entretanto, situam-se entre os últimos dos 91 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Na distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgotos sanitários, as disparidades não são menores. Quanto ao lixo, muito ainda precisa ser feito. Está na hora de implantarmos a coleta seletiva na origem – nas nossas casas. E de aprendermos a produzir menos lixo.

Não podemos deixar a responsabilidade desta missão só para o governo, que já anuncia investimentos na área. Na Guanabara, estão portos, aeroportos, estaleiros, refinarias e terminais de petróleo e gás, instalações militares e nela se realizam a pesca, a aquicultura, o transporte de passageiros, atividades turísticas, esportes como a vela e a recreação nas praias que necessitam de uma governança. Os representantes de todos estes interesses, como cidadãos, querem e merecem participar desta virada olímpica.