quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Baía de Guanabara: Água, esgotos e Jogos Olímpicos



                        
       
Falta muito saneamento ainda na Região Hidrográfica da Baía de Guanabara. Fazendo umas contas rápidas depara-se com uma triste condição: nos  16 municípios que drenam suas águas para a Baía, mais de três milhões de moradores não têm redes de coleta de esgotos nas ruas onde moram. Se três milhões não tem coleta, seguramente os despejos do dobro de pessoas não têm tratamento algum.  Tudo vai para os rios, eles mesmos transformados em valões condutores de esgotos para a Guanabara.
Ruim para a Baía, pior é a situação de um milhão dessas pessoas que ainda não tem nem água tratada nas torneiras. Alem de não terem redes de esgotos, não há rede de distribuição de água para beber nas ruas onde moram. Em pleno século XXI, a maioria serve-se de poços rasos de onde retira água de qualidade duvidosa e, quando pode, defende-se furando alguma adutora que passa perto. Sem se incomodar se a água que furtam é tratada ou não.  Quem vai puni-los?
Alem das graves consequencias para a saúde desses moradores, os efeitos dos esgotos na qualidade das águas da Baía de Guanabara já são conhecidos .  Se nada for feito, esses esgotos farão com que todos nós brasileiros passemos mal nas Olimpíadas. Se não por problemas de saúde decorrentes da falta de saneamento, por  vergonha mesmo.
Ainda dá tempo de nos prepararmos, não para o ouro,  mas para uma performance digna no ranking do saneamento.

domingo, 30 de setembro de 2012

A nossa paisagem


A paisagem é muito mais do queum espaço de terreno que se abrange num lance de vistacomo definida no  Aurélio. Ela tem adjetivos, pode ser urbanarural, árida ou cheia de vida, interior ou marinha , montanhosa ou não e pode ainda ter muitas outras qualidades dependendo do ângulo de visão e  de nosso estado emocional. Pode ser opressiva e  irritante ou aprazível  e até aquela que traz  calma, grandiosa e nos enleva.

Ela é  o somatório do natural, original, com as  alterações que lhe foram feitas pelo homem. Incorpora a cultura à natureza. É  a paisagem  que distingue os ambientesque torna o Rio de Janeiro  diferente de Nova York,  de Brasilia ou de Hong Kong. 

A paisagem de uma  cidade  representa  um valor para os seus habitantes. É um valor subjetivo e  de cálculo difícil, mas profundamente importante.
No Rio de Janeiro, as montanhas junto ao mar, os símbolos e monumentos humanos colocados em locais estratégicos como  o Cristo no Corcovado e  o teleférico no Pão de Açúcar caracterizam uma paisagem ímpar.  As praças, os jardins, os edifícios fazem parte desse conjunto que é uma paisagem de  todos nós,   um bem público e de uso comum . A orla da Baía de Guanabara pertence aos cariocas e fluminenses que a apreciam.

Mas desde os dias em que fazia  clareiras na floresta  para morar, o homem tem se aperfeiçoado nas modificações introduzidas na paisagem natural. Antes temporárias e pontuaisagora as intervenções são cada vez maiores e mais permanentes. As manchas das megalópolis sobre a terra são visíveis do espaço sideral.

Em alguns lugares nos afastamos tanto do ambiente natural que uma criança  pode viver toda a sua vida conhecendo somente apartamentos,   asfalto, a água que sai da torneira, a terra do vaso de plantas e os legumesfrutas do supermercado:  a sua paisagem é a humana..

Sabemos também que a paisagem transcende ao momento  político- administrativo.  A descaracterização na paisagem autorizada por um governo estará presente  para ser avaliada pelas próximas e pelas distantes gerações . Hoje não são mais aceitas as crateras, antes feitas para a exploração do granito, que deixaram  marcas  eternas em algumas de nossas montanhas, como a que  existe no morro do Morcego  em Jurujuba, Niterói.

Cabe a nós cuidar do que gostamos. Devemos estar alertas para impedir que  as  alteração da  nossa paisagem sejam aprovadas sem a nossa participação. 


A Guanabara é o ralo para onde escoam as águas das chuvas depois de lavar o chão de 16 municípios do seu entorno. Recebe a sujeira através dos rios que nascem límpidos nas serras e se transformam nos valões fedidos que conhecemos na baixada. Nela vão parar pneus, sofás, sapatos, sacos plásticos, tudo que se pode imaginar. Nosso grande desafio, mais do que limpá-la, é parar de sujá-la.

Mas as soluções existem e a Olimpíada de 2016 é uma grande oportunidade para nos unirmos e mostrarmos competência. Vamos fazer em quatro anos o que outros países levaram 50, como a recuperação do Rio Tâmisa, na Inglaterra, ou da Baía de Tóquio, no Japão. Precisamos dar destino ambientalmente correto ao lixo e aos esgotos domésticos de quase 10 milhões de pessoas. E estes, são assuntos nossos e de nossos governos.

Dos 16 municípios, três registram IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) comparável aos dos países com alto desenvolvimento humano. Outros, entretanto, situam-se entre os últimos dos 91 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Na distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgotos sanitários, as disparidades não são menores. Quanto ao lixo, muito ainda precisa ser feito. Está na hora de implantarmos a coleta seletiva na origem – nas nossas casas. E de aprendermos a produzir menos lixo.

Não podemos deixar a responsabilidade desta missão só para o governo, que já anuncia investimentos na área. Na Guanabara, estão portos, aeroportos, estaleiros, refinarias e terminais de petróleo e gás, instalações militares e nela se realizam a pesca, a aquicultura, o transporte de passageiros, atividades turísticas, esportes como a vela e a recreação nas praias que necessitam de uma governança. Os representantes de todos estes interesses, como cidadãos, querem e merecem participar desta virada olímpica.