Quem foi para o trabalho hoje (24) de barcas no Rio de Janeiro pôde presenciar alguns peixes rondando as águas da Baía de Guanabara no terminal CCR Niterói. Desacostumada com a situação, Maria Santos conta que ficou maravilhada com o episódio.
“Sempre que vou ao Rio de Janeiro pego as barcas porque evito o trânsito. Costumo olhar para a água enquanto aguardo a barca. E hoje, pela primeira vez, percebi uns peixinhos nadando em círculos ao lado da barca, e um peixe nadando em volta do lodo das pilastras”, diz.
“Achei linda a cena e fiquei pensando: não podia ser assim na Baia inteira? Sei que em alguns pontos específicos encontramos peixes, mas bem que poderia ter em toda a sua extensão. Já pensou a gente fazendo mergulho para ver vida naquela água toda, mas infelizmente, pelo contrário se a gente mergulhar lá,vai nadar entre o lixo, uma pena!”, completa Maria.
Peixes aparecerem na Baía de Guanabara é mais comum do que muita gente pensa. O biólogo marinho Rodrigo Brasil explica:
“Embora a Baía esteja poluída, é comum alguns peixes migrarem para a região como é o caso de algumas baleias e golfinhos, que em algumas épocas do ano escolhem as águas da Baía de Guanabara. Podemos dar destaque a um habitante que encontramos com mais facilidade, o boto. Esse mamífero costuma ser encontrado na região do canal central e da Área de Preservação Ambiental de Guapimirim, ao norte da Baía de Guanabara, locais esses que são menos poluídos”, afirma Rodrigo.
O biólogo ainda fala sobre os poluentes. “Porém, em algum tempo os poluentes da Baía vão afetar também esses animais através da alimentação de peixes, das lulas e de outros animais. Como o boto está no topo da cadeia alimentar ele nos serve como vigia da Guanabara, podemos observá-lo e usá-lo como referência da situação da Baía”, finaliza.
O biólogo Rodrigo abordou também as mutações sofridas pelos peixes sobreviventes. “Alguns peixes sobrevivem em águas poluídas, mas sofrem mutações que os torna resistentes a esse ambiente, como é o caso da espécie Microgadus tomcod da família do bacalhau. De acordo com estudos publicados na revista científica Science, o peixe sofreu uma mutação e agora possui um gene que reduz os efeitos da dioxina e do PCB, permitindo que a espécie continue sobrevivendo na região contaminada. Mas como na natureza a maioria dos seres que sofrem mutação por razão externa, essa mutação gerou um problema. O animal agora virou uma ameaça aos seus predadores e aos homens, que estão no topo da cadeia alimentar. Com a resistência aos produtos químicos, o peixe acumula toxinas em seu corpo e transfere os produtos para seus predadores, que não estão adaptados para resistir ao tóxico”, diz.
Baía de Guanabara gera renda para muitas famílias
Mesmo com a poluição, a Baía da Guanabara continua sendo explorada. Segundo análise de Ibama, o pescado artesanal de 2012 foi quase cinco vezes maior que a estimado pelo órgão. João Moreira é pescador há 25 anos e conta sobre a sua experiência com as redes.
“Viajei pelo mundo pescando e posso dizer que um dos locais que mais gosto de pescar é a Baía de Guanabara. Sobretudo porque aqui posso trabalhar perto de minha família, levar meus filhos para ensinar a pescar, e muito mais. A Baía de Guanabara está poluída sim, muita gente tem medo de consumir os peixes vindos dela, mas é bom, deixar claro, que tem algumas regiões, como a que pesco, que os peixes podem ser consumidos sim, sem risco nenhum, e através desse consumo várias famílias, como a minha, retiram o seu pão de cada dia”, relata João Moreira.
O pescador conta ainda como faz para conseguir um peixe na região. “Para pescar vou para o meu curral, passo a rede de uma ponta a outra e espero os peixes. Geralmente vem a tainha, esse peixe sempre tem. Em algumas épocas específicas do ano pesco o robalo, a corvina. E é isso, quando o peixe não serve nem para comer nem para vender a gente joga no mar novamente. O único ruim é que sempre vem lixo na rede, já encontrei de tudo desde escorredor de arroz até sapato, uma pena, pois isso mata alguns peixes”, diz.
Peixes na Baía de Guanabara são mais comuns do que muita gente pensa, e nem sempre prejudicarão a saúde. A importância de preservar e tentar salvar a Baía é fundamental para manter a vida nessa grande extensão de águas brasileiras.