sábado, 9 de março de 2013


Isabel Swan dispara: 'Estrangeiros ficam com nojo de competir na Baía de Guanabara'

Indignada com sujeira na raia olímpica, velejadora medalhista de bronze nos Jogos de Pequim cobra atitude de políticos para a limpeza do local ficar como legado
08/03/2013 15:19 - Atualizado em 08/03/2013 17:09
Por Francisco Junior
RIO
Com o status de única mulher a conquistar medalha nas competições de vela em Olimpíadas (bronze, ao lado de Fernanda Oliveira, em Pequim/2008), Isabel Swan tem conhecimento e moral elevado para avaliar as condições da Baía de Guanabara, futuro palco das disputas da modalidade nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Em sua primeira apresentação na raia olímpica, durante a Semana Brasileira de Vela, a velejadora ficou indignada com tanto lixo, sacolas plásticas e até tocos de madeira boiando no local.

- Realmente, precisa haver uma atitude do Governo Federal e dos políticos do Rio de Janeiro. A Baía de Guanabara precisa ser limpa. Tem dias em que é, praticamente, impraticável. Muitas vezes, temos que velejar olhando para o leme, para a bolina do barco, para que sacos plásticos não fiquem grudados. E ainda temos que nos preocupar em desviar de tocos de madeira ou até de lixo - afirma, em entrevista exclusiva ao ahe!.

O Governo do Estado prometeu, para agosto ou setembro, cumprir a meta de despoluir cerca de 80% das águas da Baía de Guanabara. Apesar disso, Swan cobra mais atitude dos políticos. Ela lembra que, em Pequim, havia uma proliferação de algas no local das competições de vela. Com o bom trabalho realizado pelas autoridades locais, o problema desapareceu durante o evento.

- Após os dias de chuva, fica ainda mais complicado. É muita sujeira boiando. A paisagem é maravilhosa, mas as condições para os atletas precisam melhorar. Isso vai ficar como um legado para o Rio de Janeiro - disse a carioca de 29 anos.

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A presença de 15 atletas estrangeiros na disputa da Semana Brasileira de Vela expôs, ainda mais, as fragilidades do local. Diante disso, Swan voltou a chamar a atenção para o fato de que velejadores podem perder uma medalha por questões alheias aos seus desempenhos.

- Fica complicado pensar que alguém esteja vencendo uma regata e um saco plástico atrapalhe o resultado final. Perder uma competição por causa da poluição e não do desempenho seria uma marca negativa muito grande para o evento e para o Rio de Janeiro.

Uma contaminação devido ao contato direto com a água da Baía de Guanabara não foi descartada por Isabel Swan. No entanto, a velejadora brincou com a situação.

- Acho que eu já até desenvolvi anticorpos, por velejar todos os dias na Baía de Guanabara. Mas, os estrangeiros estranham. É muita sujeira que fica totalmente visível. Então, eles (estrangeiros) reclamam sim! A água é marrom e os atletas ficam com nojo de competir no local - finalizou a atual parceira de Renata Decnop na classe 470.

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A Guanabara é o ralo para onde escoam as águas das chuvas depois de lavar o chão de 16 municípios do seu entorno. Recebe a sujeira através dos rios que nascem límpidos nas serras e se transformam nos valões fedidos que conhecemos na baixada. Nela vão parar pneus, sofás, sapatos, sacos plásticos, tudo que se pode imaginar. Nosso grande desafio, mais do que limpá-la, é parar de sujá-la.

Mas as soluções existem e a Olimpíada de 2016 é uma grande oportunidade para nos unirmos e mostrarmos competência. Vamos fazer em quatro anos o que outros países levaram 50, como a recuperação do Rio Tâmisa, na Inglaterra, ou da Baía de Tóquio, no Japão. Precisamos dar destino ambientalmente correto ao lixo e aos esgotos domésticos de quase 10 milhões de pessoas. E estes, são assuntos nossos e de nossos governos.

Dos 16 municípios, três registram IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) comparável aos dos países com alto desenvolvimento humano. Outros, entretanto, situam-se entre os últimos dos 91 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Na distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgotos sanitários, as disparidades não são menores. Quanto ao lixo, muito ainda precisa ser feito. Está na hora de implantarmos a coleta seletiva na origem – nas nossas casas. E de aprendermos a produzir menos lixo.

Não podemos deixar a responsabilidade desta missão só para o governo, que já anuncia investimentos na área. Na Guanabara, estão portos, aeroportos, estaleiros, refinarias e terminais de petróleo e gás, instalações militares e nela se realizam a pesca, a aquicultura, o transporte de passageiros, atividades turísticas, esportes como a vela e a recreação nas praias que necessitam de uma governança. Os representantes de todos estes interesses, como cidadãos, querem e merecem participar desta virada olímpica.