segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


O que nos move ?
Há tempos fui a uma reunião de trabalho em  Fortaleza.   Fim de semana no litoral, um sol lindo, mar de águas mornas e convidativas.
Ali, naquele local paradisíaco, cinco profissionais vindos de várias partes do país, um médico, um alto executivo de empresa de comunicação, um economista,  um pescador criador de mexilhões e esta engenheira, servidora pública aposentada, – dita inativa – , trabalharam  na  elaboração de um documento, começado há meses,  definindo objetivos e regras de participação em uma rede formada por muitos e muitos outros com interesses em comum.
 Imaginem outros cenários, em pequenas cidades periféricas, – nos fundos de um bar, no sobrado da barbearia, numa sala emprestada da escola,  pessoas vindas de longe, de ônibus ou de moto,  à noite, nas suas horas de folga,  para discutir como melhorar a qualidade das águas do rio próximo, como criar estratégias e regras para disciplinar o que é feito em sua bacia hidrográfica. Empresários, servidores públicos, trabalhadores autônomos, de todas as idades, cada um dando o que sabe, partilhando experiências. Tramando formas de tirar as crianças das ruas, de melhorar as condições da escola, a vida do bairro, da cidade.
 Fico pensando no que leva as pessoas a se dedicarem desta forma incondicional. Não ganham dinheiro, portanto não é o lucro que perseguem. Pelo contrário, na maior parte das vezes, despendem recursos próprios. 
Fama? Também não. A mídia alardeia catástrofes e o lado negativo dos fatos. Dificilmente cede espaço para reconhecer ações positivas. Portanto, estas pessoas não estão atrás dos holofotes.
Lembro-me que em 2000, por ocasião do derramamento de petróleo na Baía de Guanabara, vieram voluntários de todas as partes do Brasil para ajudar a salvar as aves sujas de óleo que, afinal,  nem eram tantas. Muito antes, quando houve o incêndio do circo em Niterói, a cidade toda ficou acordada tentando minorar o sofrimento das vítimas. Ruas movimentadas, lojas abertas, todos ajudaram. Penso que, nestes casos, a ação voluntária é explicada pelo impacto do acidente e pela comoção causada pela dor, largamente difundida pela mídia.
Mas há muito mais do que isso e não consigo achar uma explicação única.
Essas pessoas têm ideais comuns. Não há dúvida. Mas o que as leva a se unirem nesse voluntariado? De onde vem a vontade de ser útil, de participar de movimentos visando a proteção da natureza, de deixar suas famílias em casa e viajar, por vezes horas, e quase sempre por conta própria, para resolver questões que são de todos ?
Não me digam que é devido à ausência de ações do governo. Esta gera revolta, reação, protesto e não solidariedade e  participação pró-ativa.
Reconheço que existe uma recompensa no aprendizado, uma satisfação pessoal  aliada aos fatos de associar-se, agregar conhecimento, partilhar experiências, cooperar para as soluções, contribuir para as conquistas. Há um ganho subjetivo, um prêmio nos pequenos sinais dos resultados pretendidos que, todos sabem, somente vêm a longo prazo.
Talvez o nosso motor seja mesmo a esperança.

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A Guanabara é o ralo para onde escoam as águas das chuvas depois de lavar o chão de 16 municípios do seu entorno. Recebe a sujeira através dos rios que nascem límpidos nas serras e se transformam nos valões fedidos que conhecemos na baixada. Nela vão parar pneus, sofás, sapatos, sacos plásticos, tudo que se pode imaginar. Nosso grande desafio, mais do que limpá-la, é parar de sujá-la.

Mas as soluções existem e a Olimpíada de 2016 é uma grande oportunidade para nos unirmos e mostrarmos competência. Vamos fazer em quatro anos o que outros países levaram 50, como a recuperação do Rio Tâmisa, na Inglaterra, ou da Baía de Tóquio, no Japão. Precisamos dar destino ambientalmente correto ao lixo e aos esgotos domésticos de quase 10 milhões de pessoas. E estes, são assuntos nossos e de nossos governos.

Dos 16 municípios, três registram IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) comparável aos dos países com alto desenvolvimento humano. Outros, entretanto, situam-se entre os últimos dos 91 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Na distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgotos sanitários, as disparidades não são menores. Quanto ao lixo, muito ainda precisa ser feito. Está na hora de implantarmos a coleta seletiva na origem – nas nossas casas. E de aprendermos a produzir menos lixo.

Não podemos deixar a responsabilidade desta missão só para o governo, que já anuncia investimentos na área. Na Guanabara, estão portos, aeroportos, estaleiros, refinarias e terminais de petróleo e gás, instalações militares e nela se realizam a pesca, a aquicultura, o transporte de passageiros, atividades turísticas, esportes como a vela e a recreação nas praias que necessitam de uma governança. Os representantes de todos estes interesses, como cidadãos, querem e merecem participar desta virada olímpica.